A riqueza cultural do mundo reside na sua diversidade. Quer aquela mais óbvia quer a que se vislumbra. E esta exposição enche-me as medidas, das duas formas. Já tinha lido sobre ela em vários jornais e revistas (a propósito, a Alexandra Prado Coelho escreveu para a Pública uma peça lindíssima acerca da exposição) e visto várias imagens, mas, ao contrário de tantas outras mostras fotográficas, nesta ganha-se muito (aliás, tudo) em ir lá.
O conceito da exposição “1000 Famílias – O Álbum de Família do Planeta Terra”, promovida pela Aministia Internacional, é simples (daquela simplicidade que a torna tão rica): o fotógrafo alemão Uwe Ommer percorreu os cinco continentes durante quatro anos, entre 1996 e 2000, e ia perguntando às pessoas com quem se cruzava – empregados de escritório no Brunei, marinheiros no México ou membros da cultura amish – se podia fotografar as “suas” famílias, com o propósito de criar um “álbum de família” para o nosso planeta. E é aqui que, na minha opinião, reside a originalidade e valor cultural desta exposição – as diferentes percepções do conceito de família nos vários cantos do mundo.
“1000 Famílias – O Álbum de Família do Planeta Terra” está patente ao público, em Belém, junto ao Museu da Marinha (a exposição é ao ar livre) até 30 de Junho, depois de ter recebido cerca de 10 milhões de visitantes em Paris, Madrid, Berlim, Bruxelas e Nova Iorque.
Este álbum de família existe, naturalmente, em livro, numa edição da Taschen, intitulada Uwe Ommer,Transit: Around the World in 1000 Families
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Foto 187 – Dakar, Senegal, 26 de Abril de 1997
Antigo mecânico de carros, Habdoul é agora o coordenador protocolar presidencial. Organiza a recepção dos convidados de Estado ao mínimo detalhe, desde o momento que chegam ao aeroporto até à sua partida. Na qualidade de Muçulmanos praticantes, dizem-nos: “Nós pregamos à unidade em África e no resto do mundo”.

Foto 539 – Montalegre, Portugal, 14 de Maio de 1998
Cinquenta cabras, 20 cavalos, 15 vacas e vinha em todo o redor da casa. “Muito trabalho e pouco dinheiro”, comenta José, de 77 anos, que vive com a sobrinha de 50. No dia da sessão fotográfica, o sobrinho, um estudante de electrónica de férias, estava a ajudá-los a cortar a erva e a cuidar de umas vacas verdadeiramente espectaculares.

Foto 958 – Garrni, Arménia. 23 de Agosto de 1999
As pessoas descrevem Garnik como tendo ‘mãos de ouro’. Foi joalheiro até o mercado da joalharia entrar em colapso, tornando-se então sapateiro. “Observei outros sapateiros a trabalhar e folheei catálogos.” Faz sapatos com uma simples máquina de coser e uma grande dose de talento. Naira ensina Arménio na escola secundária e também dá aulas de Inglês e Francês na escola primária. Estão optimistas quanto ao futuro. “Pensam em ter mais filhos?” – “Sim, claro”, respondem. Ambos ajudam os pais, que se reformaram após 25 anos a trabalhar numa fábrica de níquel e que agora cuidam da horta, de um pomar e cultivam uns poucos campos, o seu principal meio de subsistência.